Primavera
Composição: David Mourão-Ferreira e Pedro Rodrigues
Todo o amor que nos prendera,
como se fora de cera,
se quebrava e desfazia.
Ai, funesta primavera,
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia!
E condenaram-me a tanto,
viver comigo meu pranto,
viver, viver e sem ti.
Vivendo sem, no entanto,
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi.
Pão duro da solidão
é somente o que nos dão,
o que nos dão a comer.
Que importa que o coração,
diga que “sim” ou que “não”,
se continua a viver.
Todo o amor que nos prendera
se quebrara e desfizera,
em pavor se convertia.
Ninguém fale em primavera!
Quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia…